sábado, 16 de março de 2013

Minha História


              Em julho de 1987, na cidade de Itaboraí-RJ aonde nasci, fui vítima de um atropelamento e 10 meses depois minha perna direita foi amputada por causa de umaOsteomielite (infecção bacteriana). Eu era uma adolescente de 12 anos de idade que, de um momento para o outro, teve que trocar os sonhos de menina pela realidade de uma nova vida.
Durante meu período de recuperação, meu pai trouxe para casa uma espingarda de chumbinho emprestada de um amigo. Sua intenção era me distrair, já que eu não saíade casa. E conseguiu: eu destruí todas as plantas da minha mãe. Esse foi meu primeiro contato com o Tiro Esportivo.
Tempos depois eu fui internada em um Centro de Reabilitação no Rio de Janeiro (ABBR). E lá, ao conviver com tantos tipos diferentes de deficiências físicas, pude entender que me entregar à depressão ou ter uma vida normal com minhas limitações só dependia de mim. E eu fiz a minha escolha.
Casei-me, tive 2 filhos e no ano de 2001, após um tratamento médico, tive um grande aumento de peso. Obesa e amputada era algo que eu não estava preparada a ser.Os olhares preconceituosos das pessoas fizeram eu me isolar. Mas em 2005 eu decidi mudar minha vida e passei por uma cirurgia de redução de estômago. 50kg mais magra e com a autoestima elevada eu queria muito praticar algum esporte mas não me identificava com nenhum.
Em 2009 me encontrei com um amigo que preside um Clube de esporte adaptado. Ao me falar das modalidades praticadas no Clube, ele citou o Tiro Esportivo. Rapidamente eu me lembrei daquela espingarda de chumbinho que eu havia “brincado” muitos anos antes. Disse que gostaria muito de praticar o Tiro e ele me falou que em 30 dias haveria um Campeonato Brasileiro. Eu fiquei muito interessada e comecei a procurar todas as pessoas que poderiam me ajudar e estar nesse Campeonato. Sem nenhuma noção do que era o Tiro Esportivo como competição, eu fui apresentada ao Diretor Técnico da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo, que me “apresentou” à pistola de ar (10m). Dei meus primeiros tiros e para sua surpresa todos acertaram o alvo.
Assim, com apenas duas semanas de treinamento e contra a vontade dos dirigentes do Comitê Paralímpico, que acreditavam que eu seria humilhada pelos outros atiradores, eu participei de minha primeira competição. E para espanto de todos, inclusive o meu, eu fui Campeã Brasileira 2009! Após esse resultado eu fui convocada a integrar a Seleção Brasileira de Para-Tiro e comecei a treinar com a equipe técnica do Comitê Paralímpico Brasileiro.
Porém mais uma vez minha vida teria algumas mudanças.
A morte do meu marido, dificuldades financeiras e uma fratura no fêmur amputado, quase me fizeram desistir de continuar o esporte. O amor de Deus, dos meus filhos e amigos foram meu alicerce nesse recomeço e após meses sem treinos eu decidi voltar às Competições.
No inicio de 2011 fui campeã na Copa Brasil de Para-Tiro e em maio participei de minha primeira Competição Internacional (Espanha), tendo meu melhor resultado. No mesmo ano fui aos Estados Unidos e Austrália, alcançando o quarto lugar em Sidney, melhor resultado de uma brasileira na história da modalidade paralímpica, aonde também quebrei o recorde Brasileiro. Com esse resultado fui ganhadora do Prêmio Paralímpicos 2011.
Em 2012 com novos técnicos, novos recordes e atirando em mais duas modalidades, Pistola Sport (25m) e Pistola Livre (50m), eu tenho um novo desejo e desafio pessoal: atirar com prótese e em pé para poder disputar as Competições Olímpicas e Paralímpicas a partir de 2013.
Recomeçar tem sido minha principal palavra. Estou recomeçando minha vida.Deus me deu um novo companheiro e em breve iremos nos casar.
 Ainda não sei até onde irei. Mas nos últimos anos eu aprendi uma importante lição: as pessoas sempre irão me olhar. Mas a forma como olham, depende de mim.
Débora da Silva Rodrigues Campos



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